Morfondírozások

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Location: Budapest, Hungary

Wednesday, September 27, 2006

33


Ontem fiquei a pensar em várias coisas. Uma de elas foi ter-me posto a questão de até que ponto me sirvo do espiritualismo para encontrar pontos de partida para entender-me a mim própria, ao mundo que me rodeia e o meu lugar em tudo isto. Nos últimos meses e especialmente como influência das minhas aulas de budismo e taoismo, tenho ganho ainda maior fé em várias coisas: Por um lado acho que o mundo é um mundo de vários paralelos onde em cada dimensão acontecem todas as possibilidades de um dado momento, e cada uma delas vai originar uma nova série de possibilidades. O facto de eu escolher, é apenas a escolha na dimensão que me é conhecida – ou do meu ser que faz parte desta dimensão. Sendo assim, o desconhecido que vem a minha frente na rua, sou eu, e eu sou todas as pessoas que existiram ou hão de existir em todas as dimensões. Se assim for, com que direito vou dizer que alguém é melhor, pior do que eu, se eles são apenas minhas variações e eu sou apenas uma variação deles. Partindo deste princípio, por exemplo o facto de eu amar ou não amar alguém é a mesma coisa, pois sendo partes do MESMO a questão é apenas até que ponto se torna consciente a nossa proximidade de um do outro. Gosto de ti, porque vejo em ti reflectida a melhor parte que eu tenho em mim... ou a parte que mais acho faltar do meu ser... ou ainda porque me fazes passar por aquilo que eu penso que mereço passar (seria interessante reflectir sobre isto em relação a violência doméstica também). O meu dever então no fundo é estar 100% acordada no presente, no momento, que no fundo nunca existe se não me consciencializo da sua existência. Conheço pessoas que passam a vida a saltar do passado ao futuro (eu própria muitas vezes), a reflectir no que aconteceu e a sonhar, planejar o que vai acontecer. Como se estivéssemos a deitar fora uma vida inteira. Baixando humildemente a cabeça perante o presente, o único que tem valor, é uma postura firme, de como diz o budismo: estar acordado.

Susana, lembras eu te ter perguntado o que vamos fazer hoje e tu teres respondido: agora estou a tomar pequeno almoço? Foi a maior lição que tive sobre este assunto.

Tuesday, September 26, 2006

se era possivel escrever com pensamentos, vcs liam paginas e paginas hoje, mas estou cansada

S. tens recebido os meus mails? É extranho estares em silencio.

Monday, September 25, 2006

O meu desenvolvimento espiritual afundou-se outra vez. :o)))))

Da fossa o único caminho é para cima

Hoje fiquei irritada, por ouvir notícias da colocação. Nem foi irritada, foi com raiva mesmo, pois vejo pessoas que me são queridas sem trabalho, e não é apenas um ou dois casos.

Outra coisa que me irritou é a forma de eu ser.

A outra razão de eu estar com raiva e deixar ir a minha auto-avaliação abaixo por apenas UM sinal negativo e nem consigo encontrar o equilíbrio outra vez após vários sinais positivos. As vezes sou tão BURRA mesmo.

Copiando a Velvetsatine :) - What kind of soul are you? ;o)




You Are a Visionary Soul



You are a curious person, always in a state of awareness.

Connected to all things spiritual, you are very connected to your soul.

You are wise and bright: able to reason and be reasonable.

Occasionally, you get quite depressed and have dark feelings.



You have great vision and can be very insightful.

In fact, you are often profound in a way that surprises yourself.

Visionary souls like you can be the best type of friend.

You are intuitive, understanding, sympathetic, and a good healer.



Souls you are most compatible with: Old Soul and Peacemaker Soul

Sunday, September 24, 2006

Tranquility


Bom, já não vale a pena estarmos a falar do país, porque as coisas parecem estar calmas. Sinceramente a manifestação a frente do Parlamento parece um Woodstock de Budapeste. Penso que a maioria das pessoas esta a divertir-se a grande. Ha concertos, idiotas que falam de coisas sem sentido e ainda um publico mais ou menos prestes a aplaudir a seja ao que for. Fique aqui o meu favorito, de um cura: “se os 7 milhões de abortados aqui estivessem com corações ardentes e bandeira flutuante no ar, tudo já estava resolvido”.

Os nossos políticos andam a mesma, a cuspir uns para os outros e penso que a fazer ainda pior ao país. O melhor lema: “...para termos razão de nos orgulhar outra vez de sermos húngaros”. Fogo, ninguém me disse que até agora devia era sentir-me envergonhada. Acho que ando muito desactualizada... nem moveis descartáveis de plástico tenho... deveria é ter medo dum belo dia acordar e estar por trás duma vitrine num museu qualquer que ninguém vai ver.

Hoje foi um dia lindo... para já porque fartei-me de abrir presentes. Os meus pais resolveram festejar os meus anos hoje. Adorei. Bom, não foi pelas prendas, mas pela atenção especial que só eles me conseguem dar. Sinto-me sempre especial ao pé deles... sim é o amor, o ser amado que nos torna quase seres mágicos nos olhos de quem nos ama. As prendas foram muito boas, um por um escolhidas com a preocupação de agradar. Pelos vistos estou a ficar velha chorona, pois um postal que recebi de um ser mesmo mágico me fez vir lágrimas aos olhos. Como sei que vais ler o que escrevo, fique aqui o quanto agradeço à vida por ter uma amiga como TU.

Resumo: a vida é linda, mas as vezes é mais fácil desfrutar dela com um tampo na orelha. Ps: a foto é uma prenda para mim mesma. J É a minha flor favorita.

Friday, September 22, 2006

Um lugar para sonhar

Rise and shine!

Ontem já não deu para escrever mais, porque estava complemente esgotada. As dez aulas que tive nesse dia tiveram o seu efeito. Quintas é dia de dar aulas aos pequeninos também, coisa que eu adoro sempre. Mesmo que exijam 100% de atenção e quererem sempre mimos e elogios enche-me de energia estar com eles.

O bom lado da história é que apareceu o meu casaco, todo ofendido por eu me ter esquecido dele. Logo se vê se o consigo apaziguar.

O mau é que pelos vistos uma das minhas alunas tem problemas alcoólicos. O homem que inventou o álcool não podia ter inventado o chocolate que não engorda? Vejo tantas vidas destruídas por essa coisa, que o meu nível de tolerância de aturar bêbados é cada vez menor. Não me importo beber eu própria um copo de vinho – especialmente Porto no inverno após uma noite cansativa, na companhia de amigos, mas sempre e muito... arghhh!

Hoje era suposto eu não ter muito trabalho, ERA suposta...

E o país? Neste momento só me da vergonha a figura de imbecis que os nossos políticos andam a fazer. As coisas tornarem-se mais pacíficas e a manifestação do sábado foi adiada por ameaças de terror e a notícia de que líderes da extrema direita de outros países terem atravessado a nossa fronteira. Eu da minha parte no sábado vou vestir-me de avestruz e em vez de enterrar a cabeça na areia vou a casa de amigos para passar o dia no jardim a ler, conversar e talvez pintar.

Wednesday, September 20, 2006

Hoje anoite havia mais policia na rua, do que pessoas... ou melhor dito eles impossibilitaram que para alem da praça do Parlamento se formassem grupos maiores. Houveram feridos mas não destruição. Algo me diz isto é a calma antes da “tormenta do sábado”. Não me lembro de sentir tanto medo, como ontem. Era o mesmo medo aliás que se pode ter em criança pela escuridão da noite – de um monstro horrível cujas dimensões não se conhecem, e ao esconder-nos por baixo do cobertor sentimo-nos em segurança. Foi um mesmo conforto que eu recebi das cartas da S, mensagens de outros e a conversa no ICQ com uma pessoa que apenas conheço há alguns dias, mas conseguiu pôr a minha cabeça em ordem de tal forma, que dormi como nem um anjinho esta noite (já não o tenho feito há mais de uma semana). Significa muito vocês estarem comigo.

Sem título

A noite cai e o medo volta... parece que é sempre com maior força. Só me apetece desligar a cabeça. Preciso de um esforço enorme para me preparar às aulas, mas prometi-me não me deixar assustar. Já houve ameaças de bomba a quase todos es edifícios da televisão e também notícia de estarem pensar em introduzirem recolher obrigatório. O PM negou tal afirmação. Estive há bocado a procura de uma coisa na minha mochila e dei com as bolotas que apanhamos na floresta com a Susana faz pouco mais que uma semana. Sentia-me tão completa nesse dia, tão cheia de paz, equilibrada, tão feliz da vida. Mal consegui engolir as lágrimas que me vieram aos olhos.

Que se lixe o medo e a angústia


Estou de volta das minhas aulas empresariais, para continuar cá em casa. No caminho fiquei a pensar que vocês não se devem esquecer, que esta é apenas a minha versão da história... e eu no mínimo estou a tornar-me esquizofrénica, por isso vejam lá em que comentários confiam.

Hoje o caminho para o outro lado da cidade foi um martírio, mas sinceramente mais por causa das obras, do que de outra coisa qualquer. Tentei ler os olhos das pessoas no caminho. Às tantas já nem sei se é verdade ou não, mas eu vejo pessoas tristes, decepcionadas, amargas e assustadas. Deu-me logo vontade de lá armar uma revolução no transporte público a tentar explicar que não são três punhados de pessoas que vão conseguir que o medo seja parte do nosso dia a dia. Fiquei tão entusiasmada que pelos vistos já devia ter estado a ver-me como uma segunda Evita Perón... pois deixei o meu casaco de ganga favorito no eléctrico... Lá estava eu outra vez a pagar por ter-me armado espertinha, nem que tivesse sido apenas na imaginação.

No grande edifício central tudo estava calado. Ninguém fala nos acontecimentos, até deu-me a ideia de ter visto um filme qualquer na noite anterior, que ainda deixou a sua impressão lá na retaguarda dos meus pensamentos, com um sabor na boca de nem sei o que.

Como eu dou aulas de língua Inglesa, aquilo as maioria das vezes parece uma conversa de amigos. Só tenho três regras: eles fazerem os trabalhos de casa, estudarem regularmente e nunca falarem de política. Do resto já tenho discutido tudo: aborto, direitos dos animais, se é melhor ser rico ou famoso, e outras coisas mais e também menos importantes. Normalmente nos 10 primeiros minutos gosto de saber como eles estão, assim já temos a rotina, de falarem dos problemas. Hoje todas as turmas foram muito queridas. Ninguém falou em política, apenas nos sentimentos. Houve quem ontem tenha ficado a chorar a ver as notícias, quem hoje tenha cancelado a reunião com ex-colegas já marcada há um mês para chegar a casa antes de escurecer, mas a pergunta de todos foi como se haviam de sentir. Parece parvo, mas nem eu sei bem. Hoje até quase comecei a sentir raiva. Primeiro a pensar: com que direito pessoas destruem aquilo o que é nosso... meu, dos meus amigos, da cidade. Na segunda ocasião quando dois jovens com grandes manchas vermelhas a volta dos olhos (por causa das bombas de gás) apanharam o eléctrico. Apetecia-me dá-lhes um estalo, não para magoar, mas como se dá aos miúdos (até pareço uma maníaca a bater em crianças). Lá vá toda a minha teoria budista para o ar. Ainda bem que apanhei o sentimento nas orelhas logo quando ele apareceu... mesmo assim ainda tive uma boa briga comigo própria durante meia hora.... pelos menos não sou perigosa para os outros. :o)

É melhor eu calar o bico e arrumar as coisas para as aulas da tarde...

Que fique aqui toda a minha admiração e agradecimento `a aquelas pessoas que toda a madrugada e noite estiveram a limpar os destroços da rua. Já hoje de manhã nem vestígios ficaram dos acontecimentos, a não ser as janelas partidas. Como si se tivesse tratado apenas de um pesadelo. OBRIGADA!

Tuesday, September 19, 2006

...e continua...

As principais avenidas, praças e pontos centrais da cidade foram atacados hoje a noite por seres tudo menos humanos a despedaçar tudo o que encontravam a caminho... montras, autocarros, caixotes de lixo. A cidade começou a sua rotina de manhã, e assim farei eu, mas sinceramente sinto-me vazia e perdida por dentro. O líder da oposição fala de confraternizar com o “povo” – ie. a horda que saiu as ruas hoje - e que só agora temos possibilidade de nós ver livre do governo... esqueceu de especificar: com esta autodestruição. Sem quiser falar mal de ninguém acho que os que estão lá acima precisam de psiquiatras, independentemente da cor do casaco... que eles as vezes parecem até ser acrobatas de o virarem tanto de dentro para fora a vice-versa.

Eu estou bem, mas gostava de ser uma miúda outra vez e sentar-me ao colo da minha mãe e acreditar no que ela diz, que tudo há de correr bem.

Posso ausentar-me para maiores espaços de tempo, pois faço questão de dar as minhas aulas e a minha mãe vem ca dormir.

Hei, conforme eu ouvi Portugal parece ter a visita de um outro tipo de furacão. Cuidem-se, com especial atenção aqueles que vão de comboio para o Porto. Beijinho e obrigada mais uma vez por todas as mensagens!

E as coisas pioram

Por um lado um ministro cínico a falar na televisão a dizer nada vai mudar a sua posição, nem que percam as eleições municipais as restrições implementadas neste mês hão de diminuir. Por outro lado um líder de oposição com enorme sorriso na cara por as coisas correrem mal para o governo, dizendo para ninguém ficar em casa. Dois miúdos a lutar pelo mesmo areeiro, mas será que o povo estará suficientemente crescido?


Neste momento há mais de 10 mil pessoas só em Budapeste, em frente do Parlamento, já não falar das outras cidades. Tudo se está a preparar para o sábado...


Nada melhor que um sorriso para afastar pensamentos obscuros...

A minha mãe telefonou com uma voz tão preocupada que logo tive uma dor no estômago, com medo de saber o que tinha acontecido... e ouvi o sermão por eu continuar a tossir e ter dormido pouco os últimos dias... mães... que vivam iguazinhas mais cem anos. :o)

Resolvi continuar o meu blog em português para vos agradecer o carinho e a preocupação.
Curiosamente “Reflexões” nasceu para pôr as coisas em ordem dentro de mim própria, mas
em português para ser partilhada com uma pessoa em particular. .. e também porque neste momento não me sinto bem a escrever em húngaro sobre os meus sentimentos. Neste momento até que aparentemente tudo esteja na mesma nas ruas, chegam notícias de pessoas serem agredidas por ler o jornal de um ou do outro partido. Tenho recebido mails de pessoas que eu tenho admirado, pensava conhecer... mails que desejam sangue... Simplesmente sinto-me perdida, acho que para mim as pessoas que me rodeiam tinham sempre a maior importância na vida, uma espécie de directriz... que agora parece cair abaixo. Vocês perguntaram se tinha medo. Neste momento acho que o que sinto é tristeza... e um medo também, porque uma grande manifestação da oposição foi organizada para o sábado. Tenho medo porque havendo eleições municipais dentro de pouco “tudo vale” e porque mágoas imaginárias e reais parecem cegar uma multidão de força desmedida. Tenho medo, porque quem está acima não parece ver o que está em jogo. Tenho medo, mas confio em nós, confio no juízo das pessoas, de este povo já não querer mais agressão, já fomos magoados inúmeras vezes na nossa história... só nos faltava virarmo-nos contra nós próprios.

Reflexões

É impressionante como o mundo fica de pernas para o ar dum momento a outro.

Ao ver na televisão a cara das pessoas parecia estar num laboratório onde tentava descobrir a natureza humana.

Umas 8 mil pessoas estiveram ontem na praça em frente da TV estatal tentando entrar, penso que a maioria sem saber até porque.

Viam-se caras de todas as formas, reflectindo uma paleta de sentimentos impressionantes. Não sei dizer qual é que me surpreendeu mais.

Os jovens que riam às gargalhadas e estavam a curtir aquilo? Os que chegaram lá como turistas de terror tentando tirar as melhores fotos possíveis ou a gravar as cenas mais chocantes para depois as rever rodeados dum grupo de amigos? Qual será o prazer macabro que nos atrai ao sangue, a fragilidade do corpo humano, de observar o pior bem de perto como espectadores duma peça de teatro real...

Lembro-me da cara dos polícias desorientados, sem saber o que fazer, pois para cada um deles haviam no mínimo cem daqueles que os queriam magoar. Dum lado da porta casalinhos beijavam-se a uma distância segura e do outro lado pessoas assustadas a carregar feridos... como bichos encurralados num beco sem saída. Ambos os lados o mesmo povo... os responsáveis nem perto estavam, mas ninguém pareceu lembrar-se disso. Eles, guardados nas suas casa protegidas lá estavam... sentados confortáveis a pensar qual é a vantagem que poderiam tirar da situação.

Penso que uma das coisas que mais me dói como é possível odiar tanto, de destruir monumentos, arrasar com um edifício, ferir pessoas que não se conhecem, sentindo-se ridiculamente importantes... grandes... deixando sair os vermes do pior que existem dentro de nós. Como é possível pôr fogo a um carro que tinha pessoas lá dentro? Nem consigo imaginar os sentimentos das mães e esposas dos polícias que estavam cumprir o dever deles.

Sim, acho que é a falta de PENSAR, agir como animais que me choca... agir sem ver passado, presente e futuro, de se olharem a si próprios de fora. Empenharem-se com toda a força para fazer mal, sem saber porque, sem ter objectivos a frente...

Acalmei-me com as vozes na multidão de tentar acalmar alguns... de mudar, mas não magoar, não ferir... de haver sensatos também ali, que sabem que ninguém tem direito de tirar a dádiva da vida. Acalmei-me e adormeci, quando veio a manhã...

Vim descobrir que eles conseguiram entrar ao edifício saqueando tudo e que podiam, roubando os computadores, destruindo os moveis, documentos, cartas e comendo, bebendo, e fumando tudo que encontraram no bar interior, destruído por completo. Será que só agimos bem com medo de que os outros descubram quem somos na realidade? Em massa é perfeitamente aceitável roubar, tirar o que não é nosso, e destruir só para sentir-nos vivos, só porque temos a possibilidade de o fazer? Horda de zombeis que desenfreadamente vai ao extremo para sentir que existem. Gritos de auxilio talvez? Já não consigo sentir raiva, tristeza ou medo.... apenas pena, sem saber como ajudar ou mudar o olhar daqueles que ficaram gravados na minha memória.