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Wednesday, September 20, 2006

Que se lixe o medo e a angústia


Estou de volta das minhas aulas empresariais, para continuar cá em casa. No caminho fiquei a pensar que vocês não se devem esquecer, que esta é apenas a minha versão da história... e eu no mínimo estou a tornar-me esquizofrénica, por isso vejam lá em que comentários confiam.

Hoje o caminho para o outro lado da cidade foi um martírio, mas sinceramente mais por causa das obras, do que de outra coisa qualquer. Tentei ler os olhos das pessoas no caminho. Às tantas já nem sei se é verdade ou não, mas eu vejo pessoas tristes, decepcionadas, amargas e assustadas. Deu-me logo vontade de lá armar uma revolução no transporte público a tentar explicar que não são três punhados de pessoas que vão conseguir que o medo seja parte do nosso dia a dia. Fiquei tão entusiasmada que pelos vistos já devia ter estado a ver-me como uma segunda Evita Perón... pois deixei o meu casaco de ganga favorito no eléctrico... Lá estava eu outra vez a pagar por ter-me armado espertinha, nem que tivesse sido apenas na imaginação.

No grande edifício central tudo estava calado. Ninguém fala nos acontecimentos, até deu-me a ideia de ter visto um filme qualquer na noite anterior, que ainda deixou a sua impressão lá na retaguarda dos meus pensamentos, com um sabor na boca de nem sei o que.

Como eu dou aulas de língua Inglesa, aquilo as maioria das vezes parece uma conversa de amigos. Só tenho três regras: eles fazerem os trabalhos de casa, estudarem regularmente e nunca falarem de política. Do resto já tenho discutido tudo: aborto, direitos dos animais, se é melhor ser rico ou famoso, e outras coisas mais e também menos importantes. Normalmente nos 10 primeiros minutos gosto de saber como eles estão, assim já temos a rotina, de falarem dos problemas. Hoje todas as turmas foram muito queridas. Ninguém falou em política, apenas nos sentimentos. Houve quem ontem tenha ficado a chorar a ver as notícias, quem hoje tenha cancelado a reunião com ex-colegas já marcada há um mês para chegar a casa antes de escurecer, mas a pergunta de todos foi como se haviam de sentir. Parece parvo, mas nem eu sei bem. Hoje até quase comecei a sentir raiva. Primeiro a pensar: com que direito pessoas destruem aquilo o que é nosso... meu, dos meus amigos, da cidade. Na segunda ocasião quando dois jovens com grandes manchas vermelhas a volta dos olhos (por causa das bombas de gás) apanharam o eléctrico. Apetecia-me dá-lhes um estalo, não para magoar, mas como se dá aos miúdos (até pareço uma maníaca a bater em crianças). Lá vá toda a minha teoria budista para o ar. Ainda bem que apanhei o sentimento nas orelhas logo quando ele apareceu... mesmo assim ainda tive uma boa briga comigo própria durante meia hora.... pelos menos não sou perigosa para os outros. :o)

É melhor eu calar o bico e arrumar as coisas para as aulas da tarde...

Que fique aqui toda a minha admiração e agradecimento `a aquelas pessoas que toda a madrugada e noite estiveram a limpar os destroços da rua. Já hoje de manhã nem vestígios ficaram dos acontecimentos, a não ser as janelas partidas. Como si se tivesse tratado apenas de um pesadelo. OBRIGADA!

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